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Copos plásticos descartáveis e câncer

Bruno Alexandre de Lima Silva Médico   CRM: 5098/AL Oncologista Clínico - RQE 3075

Muito tem se questionado a respeito da atribuída associação entre uso de copos plásticos descartáveis e a incidência de câncer. A maior parte dos copos descartáveis encontrados no mercado é feita de um composto chamado polipropileno (PP), que ao ser aquecido libera uma substância chamada estireno, que é a responsável pelo risco no desenvolvimento de câncer.

É preciso um olhar cuidadoso na questão para não transformarmos o copo plástico em um vilão. O estireno é citado pela Agência Internacional para Pesquisas em Câncer (IARC) da Organização Mundial de Saúde1 como um agente possivelmente carcinogênico (Grupo 2B). Esta agência atualiza periodicamente uma extensa relação de compostos que expressam alguma relação com o aumento no risco de câncer e os classificam em 5 grupos:

- Grupo 1: Agentes carcinogênicos para humanos
- Grupo 2A: Agentes provavelmente carcinogênicos para humanos
- Grupo 2B: Agentes possivelmente carcinogênicos para humanos
- Grupo 3: Agentes não classificados como carcinogênicos em humanos
- Grupo 4: Provavelmente não carcinogênicos em humanos

No referido Grupo 2B enquadram-se ainda outras substâncias conhecidas de uso rotineiro em nosso meio como: anticoncepcionais de progesterona, extrato de Ginkgo Biloba, Aloe Vera, gasolina, naftalina, medicamentos para hipertensão, antifúngicos, antiretrovirais, diversos quimioterápicos utilizados no tratamento do próprio câncer e anticonvulsivantes. Estas associações são encontradas muitas vezes, como produtos de resultados estatísticos em trabalhos isolados ou de pequeno tamanho, mas como é uma citação de associação com câncer em uma literatura científica, essa substância é enquadrada como possivelmente carcinogênico. Para que a relação entre estas substâncias e o câncer seja bem consolidada é necessário que haja o desenvolvimento de mais trabalhos para confirmar a hipótese levantada.

A justificativa utilizada em grande parte dos artigos divulgados na internet, utiliza um artigo de Pereira PAP et al, 20042 . Este artigo avalia a quantidade de estireno presente em copos plásticos de polipropileno quando submetidos ao aquecimento. Os autores evidenciaram que a quantidade de estireno liberada pelos copos pode variar entre 13,6 e 49,3 ng/ml-l, estando as recomendações no Ministério da Saúde em cerca de 20 ng/ml-l. Isto apenas evidencia que uma quantidade de estireno maior que a permitida pode estar sendo liberada em copos plásticos após aquecimento, mas atribuirmos isso a um aumento no risco real de câncer é uma extrapolação que não podemos fazer.

Quando utilizamos o termo câncer estamos nos referindo a uma nomenclatura genérica para enquadrar dezenas de patologias diferentes. Muitas delas com comportamento, mecanismos de surgimento, fatores de risco associados e prognóstico completamente distintos.

Ainda não conseguimos responder se estas substâncias citadas como possivelmente cancerígenas realmente o são, ou qual a quantidade necessária, tempo de exposição, a quais
tipos de tumores estão mais relacionadas, se existe associação com outros fatores de risco, etc.

Outros autores evidenciaram uma posição contrária na relação entre estireno e câncer. Em uma revisão da literatura recente, Boffetta P e colaboradores3 não conseguiram encontrar uma relação entre o estireno e o surgimento de câncer, tornando a questão ainda mais nebulosa.

Enfim, até o momento, não conseguimos determinar se a presença de estireno nos líquidos aquecidos em copos de polipropileno tem algum impacto real no risco para o surgimento de câncer e mais pesquisas serão necessárias para que tenhamos uma conclusão definitiva que nos permita a mudança de conduta no dia-a-dia.

1- https://www.iarc.fr - International Agency for Research on Cancer. World Health Organization.

2- Pereira, P. A. P. ; Oliveira, Rodolfo Figueiredo S de ; Andrade, Jailson B. de . Determination of Styrene Content in Polystyrene Cups by Purge and Trap Followed by HRGC-FID. American Laboratory, Estados Unidos, v. 36, n.15, p. 16-18, 2004.

3- Boffeta P, Adami HO, Cole P, Trichopoulos D, Mandel JS. Epidemiologic Studies of Styrene and Cancer: A review of the literature. J Ocupp Environ Med, 2009 nov;51(11):1275-87.